São Bento, homem de oração

São Bento era verdadeiramente um homem de oração, não porque escreveu ou falou sobre oração, mas porque a praticou. São Gregório Magno, no II Livro dos Diálogos, apresenta São Bento sempre em oração.

São Bento
Seja no momento de unir o crivo que se quebrou, em Anfide; seja quando morava em Subiaco, quando se refugiou numa gruta; ou quando ressuscitou o filho de um agricultor, São Bento sempre orava. Quando São Bento libertou o agricultor das mãos do malvado Zala só com um olhar, ele estava na porta do mosteiro fazendo Leitura Orante. Quando Mauro correu sobre as águas para salvar o pequeno e desastrado Plácido, São Bento estava em oração na sua cela. E ainda há o momento em que São Bento sobe na torre do mosteiro para rezar, como costumava fazer de noite, e viu o mundo inteiro como que concentrado em um só raio de luz. No fim de sua vida, São Bento morreu na capela, onde os monges se reúnem todos os dias para rezar em coro a Liturgia das Horas. Estava apoiado pelos seus monges, lembrando Moisés, que erguia os braços em oração para que Josué vencesse a batalha contra os amalecitas.

São Bento só foi ‘vencido’ na oração pela sua irmã Santa Escolástica, quando ela pede a Deus que faça chover para ficar mais tempo com o irmão, uma vez que seria a última vez que eles se encontrariam. Isto aconteceu porque ‘ela mais pode, porque mais amou’, explicou São Gregório, pois o segredo da oração é intensidade do amor com que se ora, ou como diria Santo Agostinho, ‘ a intensidade do desejo’. São Bento e sua irmã Santa Escolástica não rezavam por obrigação ou dever, mas por amor. Rezavam simplesmente porque amavam a Deus, e a partir deste amor amavam o próximo. A oração deles era uma maneira de dizer a Deus: eu te amo! Como disse São Pedro ao Cristo ressuscitado, no final do Evangelho de São João: ‘Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que eu te amo!’. E como se pode explicar o amor? Muito difícil tentar descrever o que é o amor. Bem que os poetas tentam, e usam a lua para auxiliá-los nesta árdua tarefa. Talvez seja por isso que São Bento escreve tão pouco sobre a oração. Na sua Regra, ele organizou a Liturgia das Horas de seu mosteiro, dos capítulos 8 ao 18, tendo por modelo a Liturgia das Horas celebrada em Roma do seu tempo. E sobre a oração em si, somente dois pequenos capítulos (o cap. 19 e o cap. 20), nos quais recomenda que a oração deva ser breve e pura. É como se houvesse algum escrúpulo de São Bento em querer discorrer sobre o que há de mais íntimo entre o ser humano e Deus: a oração.

São Bento era sóbrio, não ficava com devaneios sobre a intimidade entre a alma e Deus. Como estava imbuído do espírito pragmático romano, ele apenas dá umas dicas preciosas sobre a oração: que devemos estar inteiros e concentrados naquilo que estamos fazendo quando oramos, por isso ele diz que na oração ‘nossa mente concorde com nossa voz’. Sugere que não nos utilizemos muitas palavras ao nos dirigirmos a Deus, pois nossa oração deve ser ‘breve e pura’. E também quando queremos começar algo de bom, São Bento dá a dica de que o melhor é primeiro orar ( no Prólogo). Quando chega um hóspede no mosteiro, que se ore com ele na capela. E que para a cura de um irmão que caiu em falta, nada melhor que a oração: é a arma mais poderosa!

Alguém poderia perguntar: mas o que devo dizer quando vou rezar? Uma pergunta do estilo que fizeram os discípulos para Cristo: “Senhor, ensina-nos a rezar”. E Cristo ensinou o Pai Nosso. O material para a oração comunitária que encontramos em São Bento são os Salmos, a Bíblia e os Pais da Igreja. Nos Salmos, por exemplo, encontramos todos os sentimentos e as necessidades do ser humano, por isso já eram utilizados na oração do templo de Jerusalém antes de Cristo. O próprio Cristo rezou os Salmos. Na Palavra de Deus é o próprio Cristo que fala conosco. E nos comentários bíblicos feitos pelos Pais da Igreja, como São Gregório Magno, Sto. Agostinho e São Leão Magno, temos a doutrina segura da nossa Mãe Igreja. No último capítulo da Regra, São Bento cita umas referências de onde se pode colher material para as orações e reflexões, dentre elas ele cita São Basílio Magno, chamando-o de ‘Nosso pai Basílio’. Para oração pública ou comunitária, há esse material entregue a São Bento pela Tradição da Igreja e que os beneditinos vem transmitindo de geração, a partir da Tradição que eles próprios receberam de São Bento, por meio de sua Regra. Mas para a oração íntima com Deus, aquela que se faz na intimidade do coração, que brota da ‘inspiração da graça divina’, como diz São Bento, para essa não há receita: cada um diga a Deus o que lhe vem ao coração, como fazem os poetas!

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