Visita pastoral do Santo Padre a Montecassino


DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II AOS JOVENS DE CASSINO

Pátio da Cúria Episcopal

Sábado, 20 de Setembro de 1980

1. É com sentida alegria que me encontro convosco, caríssimos jovens de Cassino: o estar com jovens constitui sempre um momento particularmente agradável das minhas viagens pastorais e tem-se tornado um costume muito belo e confortador. Saudar-vos-ia de boa vontade, um a um, mas o tempo não me consente deter longamente e sou obrigado a limitar-me a uma breve palavra, mas que vos dirijo de todo o coração.

2. O Presidente da Acção Católica diocesana, interpretando os vossos sentimentos, disse que "os jovens desejam palavras de certeza no difícil caminho da vida". Pois bem, o meu ardente desejo é precisamente confortar a vossa fé e a vossa esperança. O homem, de facto, pode desprezar muitas coisas mas não pode renunciar àquelas certezas que são as únicas a dar valor e significado à sua existência. Como bem sabeis, a certeza nasce da Verdade, e a Verdade é tal quando leva à Vida. Jesus Cristo é precisamente o Caminho que conduz à Verdade e Ele é "verdadeiro" porque é a Vida e dá a vida. Todos os homens são chamados a percorrer este Caminho; nós todos somos discípulos deste Mestre que tem palavras de Vida Eterna.

Os Santos percorreram de modo edificante este Caminho e nós hoje recordamo-los e veneramo-los corno pedras milenárias, como sinais erguidos pelo povo de Deus. São Bento, de quem celebramos o décimo quinto centenário de nascimento, foi "homem verdadeiro" porque soube encontrar na busca de Deus o significado e a esperança da sua existência na sociedade daquele momento histórico em que terminava uma época e nascia outra. Ele, desde a sua juventude, não hesitou em fazer uma escolha corajosa entre as ofertas de uma rica e promissora vida terrena e as supremas exigências de Deus.

Na história da humanidade aconteceu sempre que, esquecido Deus, em seu lugar foram fabricados ídolos: "São desgraçados e puseram as suas esperanças em mortos, aqueles que chamaram deuses às obras das mãos dos homens" (Sab 13, 10). O homem, de facto, se confia nas suas forças, é como um vivente colocado numa condição de morte e o mundo não sabe oferecer-lhe senão perspectivas de morte: a droga, a violência, o terrorismo, as opressões e os consumismos de toda a espécie. O contrário de tudo isto é a vida, o amor, a paz, a alegria, a verdade, o respeito do homem e das coisas, ou seja tudo o que deriva da fé em Deus e do compromisso cristão.

É sobre estes valores que vós, jovens, deveis pronunciar-vos e é para estas opções que deveis tender, com o entusiasmo e o compromisso característicos da vossa idade.

3. É-me caro recordar também a vós quanto tive ocasião de dizer aos jovens da França no meu encontro com eles: "O homem realiza-se a si mesmo somente na medida em que sabe impor a si mesmo as exigências. Aquelas exigências que Deus mesmo lhe impõe... A permissividade moral não torna os homens felizes, a sociedade de consumo não torna os homens felizes. Estas nunca conseguiram isto" (Discurso aos jovens, 1 de Junho de 1980, n. 8).

Sinto-me unido com grande afecto a todos e cada um de vós, a fim de que saibais percorrer o único caminho verdadeiro e possais escolher a única certeza, que é Jesus Cristo, Redentor do homem. Ele vos acompanhe para que tenhais uma vida autenticamente humana e cristã. Conforte-vos também a minha Bênção, que de coração faço extensiva às vossas famílias.

Visita pastoral do Santo Padre a Montecassino


DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II AO CLERO, AOS RELIGIOSOS, ÀS RELIGIOSAS E AO LAICADO DE CASSINO

Sábado, 20 de Setembro de 1980

Caríssimos Sacerdotes, Religiosos e Religiosas e caríssimos responsáveis do Laicado católico! 

Sentir-me-ia com remorsos no coração, se nesta feliz oportunidade que nos oferece o ano jubilar de São Bento não tivesse reservado um momento da minha visita inteiramente para vós, que sois os artífices, os animadores e os responsáveis da animação cristã do povo de Deus, que está nesta terra de Cassino, tão profundamente marcada pela memória e pela protecção do Patriarca do Ocidente.

1. Desejo, antes de tudo, agradecer-vos pela alegria que me proporcionais por vos saber e ver animados de profundo espírito de fé em Cristo Nosso Senhor e de afectuosa adesão ao seu Vigário. Agradeço-vos sobretudo pela obra pastoral, que vós, a diverso título, realizais com solicitude pela salvação das almas. O vosso Vigário-Geral, pediu-me, como agora ouvistes, palavras de encorajamento para o vosso "compromisso pastoral quotidiano". De bom grado acedo ao seu desejo, exprimindo a minha estima e a minha benevolência, em primeiro lugar a vós, pastores de almas, que em generosa colaboração com o vosso Bispo prestais um serviço tão delicado à Igreja de Cassino. A vossa presença desperta no meu espírito recordações indeléveis ligadas às minhas experiências pastorais, realizadas como Sacerdote e Bispo na minha Diocese de origem na Polónia, onde consumi a maior parte das minhas energias juvenis no meio das almas, que encontrei sempre tão desejosas daquela Palavra que vem do alto e daquela Força especial que vem dos Sacramentos da salvação. Dirige-se a vós, portanto, a expressão da minha solidariedade fraterna e do meu sincero apreço, pela generosa dedicação com que realizais o ministério sacerdotal e pela boa vontade com que enfrentais as não poucas dificuldades que, devido à escassez dos subsídios pastorais ou à falta de colaboração, se vos deparam. A vós, irmãos caríssimos, que sendo bons operários do Evangelho cumpris quotidianamente os preceitos do Senhor com os factos, segundo o espírito beneditino: "Praecepta Dei factis quotidie adimplere" (Reg. n. 4), digo: continuai a trabalhar confiadamente pela salvação de todos os homens e de todas as mulheres, mas dedicai particular atenção aos pobres, aos marginalizados, às crianças abandonadas, aos trabalhadores afadigados e a todos os que sofrem no corpo e no espírito. Sabei que nesta vossa obra edificadora e salvadora o Papa vos segue, vos compreende, vos ama e vos abençoa.

2. Também a vós, Claustrais Beneditinas e Religiosas da Diocese, desejo dirigir uma especial saudação juntamente com o voto por que a celebração centenária de São Bento contribua para despertar em vós o entusiasmo e a alegria de pertencerdes à "escola do serviço do Senhor" (Re. Prol. 45) e de vos terdes encaminhado pelo "caminho da vida" (Reg. Prol. 20), como o Pai do Monaquismo do Ocidente define a vida religiosa. Se também vós, seguindo o exemplo dele, quereis progredir rapidamente no "caminho da vida", tende, como ele, a ânsia de uma contínua reforma interior. De facto, não pode existir vida consagrada quer na acção quer na contemplação, sem tal necessária premissa, que assegura aquela progressiva superação do homem velho, que vos assimila ao modelo divino, Jesus Cristo, no qual o Pai reconciliou consigo o mundo. Transformando-vos assim vós mesmas, transformareis o mundo, e tomar-vos-eis as suas primeiras evangelizadoras, porque tereis em vós o Espírito de Cristo, que é a alma do Corpo místico, ou seja de todos os baptizados. Se vós dilatardes deste modo os espaços da caridade evangélica, então toda a vossa vida religiosa, que aos olhos profanos pode parecer segregada dentro das paredes de um Mosteiro ou de uma Clausura, estará aberta não só ao louvor de Deus Pai, mas também à santificação de todos os homens e à compreensão dos seus problemas. Unindo assim a contemplação à acção, vivereis em plenitude o mote "Ora et labora", que bem sintetiza a sapiente espiritualidade de São Bento. Obtenha-vos Ele do Senhor que traduzais em prática estes propósitos.

3. O último pensamento é reservado a vós, caros responsáveis do Laicado Católico diocesano! Também a vós, leigos, São Bento tem uma palavra a dizer e um exemplo a apresentar. Toda a sua paixão pelos homens, pelas suas situações espirituais e sociais, toda a atenção para com os seus visitantes, quer da Gruta de Subiaco, quer aqui em Monte Cassino não revelam porventura o grande coração que ele teve para aqueles que não pertenciam ao círculo restrito dos seus mosteiros? E as próprias exortações e os compromissos que ele confiava aos peregrinos não era um modo de os tomar conscientes de que todo o baptizado é participante da missão confiada por Cristo à Igreja? Caríssimos, como no tempo de São Bento, e muito mais de então, hoje a Igreja confia muito em vós e na vossa colaboração. Como bem sabeis, a tarefa da evangelização compete não só aos sacerdotes mas também, por diferentes títulos, a todos os fiéis, porque eles são movidos pelo Espírito Santo a darem testemunho de Cristo e do seu Evangelho (cf. Jo 15, 26.27). Hoje, mais do que nunca, a Igreja confia em vós não só porque lê nas vossas almas a vocação para uma plenitude de vida cristã, mas também porque reconhece as grandes possibilidades que tendes de contribuir para a formação e coordenação dos vários movimentos eclesiais diocesanos. Sabei assumir as responsabilidades que vos cabem com optimismo, olhando para o presente com realismo e para o futuro com esperança. Sobretudo sabei vencer com a luz da fé e com o impulso do amor a indiferença, a inércia e toda a espécie de obstáculos. Vereis assim reflorescer as vossas organizações e dareis glória a Deus e alegria aos irmãos. Para tanto vos sirva de ajuda a propiciadora Bênção Apostólica, que agora concedo a todos os presentes e a todos os que vos são queridos.

XV centenário de São Bento


HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II

Monte Cassino, 20 de Setembro de 1980

No esplêndido cenário desta basílica, ressurgida milagrosamente da ruína devida ao ataque da guerra, e de novo consagrada pelo meu inolvidável predecessor Paulo VI, transborda hoje com uma assembleia tão escolhida, talvez única na história mais que milenária cassinense, de filhos e filhas de São Bento diante do seu glorioso sepulcro, como se o víssemos redivivo. Aqui à volta do altar, onde se concelebra o Sacrifício Eucarístico, vem-me espontaneamente ao espírito e não posso deixar de repetir o grito jubiloso de Isaías  Ó Pai venerando, "levanta os olhos à volta e vê: como todos estes se reuniram para vir a ti; os teus filhos chegaram de longe e as tuas filhas foram transportadas ao lado" (cf. Is 49, 18; 60, 4). Para celebrarem o teu jubileu, juntaram-se de todas as partes do mundo, na alegria de te manifestarem a sua fidelidade filial, de te exprimirem os seus votos e de pedirem a tua fecunda bênção em comunhão visível e muito desejada com o sucessor de Pedro. E este sente a satisfação de se encontrar com eles, para te manifestar a ti — Patriarca, pelo decorrer de tantos séculos, de milhões de monges — a estima e o amor que toda a Igreja professa por ti, criador, por desígnio e graça de Deus, de imensos tesouros de civilização, cultura e sobretudo de santidade.

A tua vida, embora passada no apertado raio de uma só região, foi maravilhosa por virtude e prodígios; mas a acção da tua mensagem vivificadora estendeu-se a toda a Europa e a todo o mundo, até alcançar os nossos dias, graças àquele teu pequeno mas grandíssimo livro, destinado a tornar-se fermento da divina justiça para a formação cristã das multidões que Deus, como já para Abraão, te preparava como inigualável herança.

É muito agradável e comovedor para mim, e para todos os aqui presentes, pensar que, precisamente neste mosteiro, num pequeníssimo e escuro ângulo que a guerra respeitou, foi escrito aquele livro, a tua Regra: como recorda ali em baixo uma inscrição lapidar: "Aqui escreveu a Regra e ensinou-a com palavras e obras".

Veneráveis Abades, dilectíssimos filhos e filhas de tão grande Pai e Legislador: neste encontro que podemos definir excepcional e neste vértice das celebrações centenárias do nascimento, do Santo, a esse preciosíssimo livro devemos regressar e nele inspirar-nos para conseguir a reconstrução moral e religiosa que urgentemente nos diz respeito e ao mundo devemos. A minha recentíssima Carta Apostólica Sanctorum Altrix teve em vista propor, quase em visão panorâmica, o muito de vital e de fértil que ainda podem oferecer o ensinamento e a instituição de Bento, não só para a vida de perfeição monástica, mas também para a renascença e o revigoramento do sentir e do praticar, que se inspiram no Evangelho.

Com imenso prazer sei ainda que, para digna memória do centenário, estais a celebrar em Roma, coração da Cristandade, um original Simpósio precisamente sobre a Regra, com o nobre propósito de verificar e descobrir, em seguida aos muitos estudos recentes e com base em experiências já feitas ou ainda em execução, quanto ela possui ainda de válido e vivificante, quais são as estruturas fundamentais e infrangíveis que hão-de resistir, quais as acessórias que a evolução dos tempos tornou e torna caducas, e quais os valores inderrogáveis a que é preciso aderir tenazmente nos mosteiros, para que possam reconhecer-se ainda inseridos no sulco da família beneditina.

Com razão, como acontece em todo o pensamento e em toda a prática de hoje, sentis a necessidade, vós especialmente que sois os pastores das comunidades, de que fique bem clara a identidade do filho e discípulo de Bento. Falo a quem sabe: vós que tantas vezes lestes e longamente meditastes a vossa Regra, sabeis bem o que por meio dela, da qual ninguém se aparte temerariamente (3, 7), o Patriarca quer construir e ao mesmo tempo ensinar.

Quer construir, como é bem sabido, a escola do serviço do Senhor (Prol. 45). A identidade vossa está neste absoluto e total serviço ao valor absoluto que é Deus. Todo o mundo está em Deus; mas o mosteiro, como Bento gosta de o definir, é casa de Deus (53, 22) em especial: o monge está nele para servir o Senhor desta casa, na humildade, na obediência, na oração, no silêncio, no trabalho e sobretudo na caridade. Conheceis a insistência especial com que o vosso Legislador assinala esta virtude no seguimento de Cristo, como informadora de toda a vida monástica. O capítulo dos instrumentos das boas obras (Reg. 4) adverte-vos que, na realidade, a ascética e a mística beneditinas são simplesmente evangélicas, com um Evangelho aceito e praticado em todas as suas consequências.

Reconhecida esta identidade, eis o propósito e o amor, hoje também tão difundidos, de autenticidade. Dos beneditinos isto quero eu, queremos todos na Igreja e no mundo: convencidos do que é o monge na mente do Patriarca, sejam monges verdadeiramente, verdadeiramente (diz ele próprio revera) buscadores de Deus, amantes de Deus, felizes por viverem apartados do mundo, num contexto familiar de obediência e de caridade, do qual nascem a paz e a alegria: ninguém se perturbe nem contriste na casa de Deus (31, 19).

Uma longuíssima e ininterrupta tradição, a mais longa que pode aproximar-se daquela mesma que é a da Igreja, comprovou a nobreza, a beleza e a fecundidade da espiritualidade beneditina. Gloriai-vos dela santamente e continuai, embora com as devidas e cautas adaptações às mudadas circunstâncias actuais, seguindo o sulco traçado pelo Pai antigo e pelos pais da vossa tradição, sem vos deixardes surpreender ou aliciar por tendências para o secularismo, por não razoáveis e não necessárias inovações, por exageradas teorias de pluralismo, que terminam com fazer que vos desvieis da linha do vosso Legislador. Tem sido notado que uma das principais qualidades da Regra é a clareza: todos podem facilmente aprender e saber o que prescreve e recomenda o grande Mestre; só falta, humilde, dócil e alegremente, segui-lo.

Com a bênção de Deus, com o sorriso materno de Maria rainha dos monges, com o patrocínio do vosso Legislador, e com a mensagem da sua palavra interpretada pela sã tradição e traduzida no vosso fiel exemplo, continuai a dizer ainda, hoje e amanhã, a força da fé, o doce dever da oração, o apaixonado amor à liturgia, o benefício da autoridade e da obediência, o culto da leitura divina e de todos os estudos sagrados, a doçura do vosso canto gregoriano, a pronta dedicação ao trabalho da mente e das mãos, a dignidade mesmo na compostura externa das atitudes e no hábito religioso, a alegria da vida em comum e sobretudo a busca sincera da paz e da caridade.

Mes neste singular e consolador encontro com todos os Abades e os Superiores beneditinos, é-me agradável (parece-me necessário apontar para tudo quanto na mencionada Carta Apostólica já recordei sobre a característica atitude paterna que o vosso Legislador imprime ao governo abacial. Sede superiores, administradores, mestres, mas sobretudo sede pais. Neste "mundo sem pais", como então recordava, deveis oferecer o testemunho em que São Bento pensou ao constituir o seu mosteiro como sociedade familiar, onde há um pai que provê, ensina e principalmente ama os seus monges, os respeita, lhes estima a dignidade pessoal, os faz co-responsáveis das decisões e os segue com afecto que abrange também a ternura do coração materno.

Para vós é norma mais ser amado do que temido (64, 15); e os dois capítulos da Regra que encerram como que o vosso directório (2 e 64), especialmente o admirável capítulo 64, realmente brotado de um peito rico de sabedoria e de amor, são a magna charta que deve reger e inspirar o vosso comportamento. Mas é toda a Regra que fala de vós, para vos inculcar sabedoria, prudência, inflexibilidade contra os vícios, promoção das virtudes, compaixão para com os fracos, e sobretudo aquela discrição romana e cristã que distingue o insigne código e constitui porventura a principal razão da sua difusão e validez. O equilíbrio do abade gera e alimenta o amor recíproco entre o abade e os filhos, e entre irmãos e irmãos. No nosso mundo, onde a falta do amor esvazia os ânimos de valor e alegria, saiba-se e veja-se, pelo vosso generoso sacrifício, que o mosteiro é sociedade de autêntico amor humano e sobrenatural.

Por fim, uma particular saudação desejo dirigir a todos os ramos femininos, alguns dos quais estão aqui também oficialmente representados. À luz e ao odor de virtude de Escolástica, que precisamente aqui repousa junto ao irmão, a vossa puríssima e virginal presença, ó filhas todas de São Bento, alegra e edifica o Povo de Deus. No silêncio do vosso escondimento ou na humildade das vossas obras, vós em particular reproduzis, e deveis aplicar-vos a isso convictamente, a atitude espiritual da virgem Maria, contente com ser escrava do Senhor, totalmente disponível unicamente para a vontade do Pai celeste. Dai flores como o lírio, exalai perfume, lançai preciosos ramos, e para alegria e benefício de todos os irmãos da terra cantai ao Senhor os mais castos louvores, e a Cristo vosso Esposo a exultação da vossa intimidade de amor.

Padres e irmãos, e irmãs todas, alegremo-nos pois com alegria imensa, celebrando a festa em honra de São Bento, de cuja glória exultam os Anjos e os Santos, de cuja doutrina e formação beneficiam nesta terra muitos milhares de almas dentro e fora dos claustros, e a cujo exemplo e patrocínio recorrem a Igreja e o mundo inteiro. Ressoa ainda a sua voz: "A Cristo nada absolutamente antepor". E a mensagem fundamental, e se o seu belo sonho é que todos os membros da família monástica estejam em paz, este sonho será feliz realidade para toda a família humana se no conjunto dela finalmente vier a inserir-se Cristo.

1980: XV CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE SÃO BENTO

PALABRAS DE SANTO PADRE JUAN PABLO II A LOS ENFERMOS DEL HOSPITAL DE NURSIA

Domingo 23 de marzo de 1980

Estoy siempre cerca de todos los que sufrís, de todos los enfermos, a todos los que se encuentran en esta difícil circunstancia de la vida. Trato de rezar cada día junto con vosotros y por vosotros y espero que también vosotros hagáis cada día conmigo la comunión de oración. Ahora quiero impartir una bendición y saludar a todos los enfermos de este hospital y, con ellos, a todos los médicos, a todas las religiosas, las enfermeras y a todas las Personas buenas que os asisten y también a los miembros de vuestras respectivas familias. Sobre todo una bendición a los niños, que nos han introducido tan clamorosamente en este hospital.

(L'Osservatore Romano, Edición en lengua española, 30 de marzo, 1980)

1980: XV CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE SÃO BENTO

ENCONTRO DO PAPA JOÃO PAULO II COM OS JOVENS REUNIDOS NA PRAÇA DE SÃO BENTO EM NÓRCIA

Domingo, 23 de Março de 1980

Caríssimos Jovens

Agora, ao concluir-se este dia tão intenso e rico de comoções vivas e de alegria interior, apraz-me o encontro convosco, jovens do Valnerina e da Úmbria inteira, e com todos nós que vos reunistes aqui para confirmar o vosso espírito naquela generosa dedicação, de que destes unanimemente prova no dia seguinte ao catastrófico sismo que flagelou, o ano passado, estas laboriosas gentes. Vós destes então testemunho inconteste, tanto mais apreciável quanto mais brotou da vossa espontaneidade, da vossa dedicação dinâmica e serena, imitando, na obra de assistência e solidariedade, o exemplo de precoce maturidade oferecido pelo jovem Bento, cujo bom senso — como afirma São Gregório Papa — atingiu a maturidade logo na infância, adiantando-se aos anos com as virtudes (Cfr. São Gregório Papa, Diálogos, II, Prol.).

Vós, animados pela mesma vontade de cooperação para bem da comunidade, especialmente de todos os que se encontram em condições penosas de mal-estar, colocais-vos na verdadeira luz do "humanismo cristão", proposto e vivido pelo Santo de Nórcia, o qual se resume em autêntico respeito pelo homem seja qual for a expressão do seu valor, num amor eficaz para com ele, especialmente quando revela o rosto e a voz do sofrimento.

Recebei, pois, caros jovens, da Cáritas, do Agesci, da Comunidade de Santo Egídio, de Comunhão e Libertação, dos Focolarinos, da Acção Católica e dos vários grupos eclesiais, a minha afectuosa saudade nesta terra natal de São Bento, e aceitai sobretudo a expressão do gosto que senti por tudo o que realizastes com juvenil entusiasmo.

O vosso esforço de caridade e altruísmo inseriu-se perfeitamente na corrente de séculos da mensagem beneditina, válida e actual hoje ainda, porque ligada a valores perenes que, se necessitam de manifestações novas e de verificações, são capazes de vivificar e elevar a experiência humana de todos os tempos. Esta mensagem pode atrair e cativar, mesmo os jovens da geração presente, muitas vezes desiludidos e desorientados no labirinto de uma sociedade hedonista e permissiva.

De facto, também os tempos tristes, em que foi inserida a existência espiritual de São Bento, eram densos de aspirações ambíguas e utópicas, de vãos propósitos de grandeza; também aqueles tempos estavam caracterizados por uma palidez moral desoladora e por um teor de vida miserável, debaixo do choque de povos em expansão, mas ainda dominados por sugestões de violência. O Santo de Nórcia, todavia, alimentado pelas certezas da fé, reafirmou a força de um Cristianismo mestre de dignidade moral, de liberdade espiritual e ao mesmo tempo construtor de civilização.

Como vós experimentastes, a conquista dos espaços interiores, que oferecem a Deus o lugar justo no espirito humano, todo aquele empenho, numa palavra, que poderemos distinguir com o primado do "ORA", do "reza", não é de maneira nenhuma contrastante, mas pelo contrário concede respiração e dá intuição criadora, à verdadeira abertura para a esfera social, para o doloroso dever quotidiano e para as forças vivas do trabalho e de cultura, animando assim com alento vivo e com espírito de serviço o grande e angustiado mundo do "LABORA", do "trabalha".

Que vos posso dizer de especial, nesta sugestiva moldura de penhascos e vales, que deram têmpera ao ânimo forte e corajoso do predestinado jovenzinho, e numa hora tão cheia de fraternidade e comunhão, penetrada pela espiritual presença do Pai da nossa civilização europeia?

Continuai, caros jovens, o testemunho que generosamente dais, porque ele, ao mesmo tempo que em sintonia com os valores da tradição beneditina, é fiel aos homens de hoje, interpretando-lhes as aspirações mais profundas.

1) Advertistes a urgente necessidade de vos encontrar com o Absoluto e portanto descobristes a importância da interioridade, do silêncio e da meditação, a fim de poderdes compreender o sentido definitivo e pacificante da existência de cada um. Saboreastes a doçura da oração e daquela sempre renovada e perseverante reconciliação de amizade, com o Senhor, estabelecida nos corações por uma atitude existencial de humilde e operosa obediência ao Pai Celeste. Com São Bento vos dirigirei então o paternal convite: "Ausculta, fili, verba magistri": escuta, ó filho, o que te ensinam os verdadeiros mestres, e tornai atentos os vossos corações no silêncio da oração, para, graças ao esforço de uma obediência dócil aos sãos preceitos, voltardes Aquele de quem nos afasta uma posição de indolência ou de rebelião (Cfr. São Bento, Regra, Prol). Colocai-vos muitas vezes diante do Mestre interior e de quem o representa, na atitude de verdadeiro discípulo, que sabe calar-se e escutar.

2) Vós, caros jovens, descobristes a caridade e o amor, que se manifestam na solicitude pelo próximo e num diálogo franco com os irmãos, respeitando-lhes a dignidade e mostrando disponibilidade para uma osmose de contributos recíprocos. São valores que São Bento estabeleceu num contexto sócio-económico em que predominavam a exploração e o arbítrio, opondo ele à violência o espírito de fraternidade e à preguiça o esforço operoso, para colocar os pressupostos de uma restauração humana integral. O mosteiro beneditino será quase um prenúncio da nova "sociedade"; dentro dos seus muros apagam-se as discriminações entre nobres e plebeus, entre ricos e pobres, entre livres e escravos; nele encontram refúgio colonos perseguidos e bárbaros opressores, depondo diante de Deus rivalidades antigas e rancores recentes, paia se dedicarem à oração, ao trabalho e ao apoio mútuo. Cheio de delicadeza em tratar os monges, em acolher os peregrinos e em curar os doentes, o Santo enu, mera entre os instrumentos para proceder rectamente: "Pauperes recreare,... infirmum visitare,... in tribulatione subvenire, dolentem consolari, ... nihil amori Christi praeponere": socorrer os pobres,... visitar os doentes,... ajudar os atribulados, consolar os aflitos,... nada antepor ao amor de Cristo (São Bento, Regra, Cap. IV).

3) Vós amais a beleza, que é o esplendor da ordem e, por conseguinte, prevalentemente inocência de vida e harmonia do espírito. A Regra, cuja redacção ocupou o Santo por longo tempo, indica com sabedoria e medida as modalidades e os tempos da oração e do trabalho.Mostra quanto ele tinha a peito essa beleza que deriva de um ritmo ordenado de vida. Ele, de facto, harmoniza em si mesmo o sentido da autoridade, dá ordem e da disciplina, recebido do mundo clássico, com uma delicadeza de alma amadurecida no decurso do seu longo caminho de perfeição.

É a ordem, primariamente espiritual, que nele reina e permite aos mosteiros serem, grandes centros de vida e actividade criativa, na consciência desenvolvida de o Cristianismo ser ao mesmo tempo ascese para com Deus e compromisso terrestre, de maneira que a oração leve ao trabalho, não só como meio para assegurar aos monges o necessário sustento, mas também como ocasião valiosíssima de disciplina pessoal e de promoção social.

O veemente apelo da mensagem beneditina para se procurar Deus e a Sua vontade, para estabelecer um contexto social, dominado pela fraternidade e pela ordem, apresenta-se hoje como voz de singular actualidade neste dia de oração e reflexão a respeito do gravíssimo problema do terrorismo na Itália.

A violência, que está arruinando a ordem social da Nação italiana, não é casual: origina-se num programa concreto, nasce do espírito de ódio. A matriz da :violência está nisto; só nisto. Urge não nos deixarmos enganar por outras motivações. Vedes como é necessário, por parte dos cristãos, saber discernir este espírito e compreender a perversidade intrínseca do mesmo (Cfr. 1 Jo 3, 15), não deixar-se contaminar pelo espírito do ódio, para conseguir subtrair-se com vigor ao crescimento dele e não deixar que as suas sugestões enganem. Aplicai-vos, pelo contrário, a ser pespicazes e generosos apóstolos do amor.

Caros jovens, os ideais e os valores dominantes do testemunho de São Bento, vós conhecei-los e, com a graça de Deus, estais empenhados em vivê-los; continuai a interpretá-los e a encarná-los com ânimo, generosidade e entusiasmo, convencidos que o Senhor mesmo é o único abonador, como diz o Salmista, de um edifício de fundamentos sólidos, portanto de um futuro justo e humano, de uma sociedade pacífica e produtiva e de uma ordem harmoniosa e fraternal. Com a minha afectuosa Bênção.