HISTÓRICO: MARÇO

Oração da Noa.

Estudamos o Capitulo 49 – “Da observância da Quaresma” e o Capítulo 4 – “Quais são os instrumentos das boas obras”.

Com base neste estudo cada membro do grupo escreverá uma carta com os seus propósitos de conversão para a Quaresma. Carta esta que deve ser entregue a Madre Paula Ramos.

Encerramos o encontro com uma confraternização.

ESTUDO DE JANEIRO E FEVEREIRO

REGRA DE SÃO BENTO

PRÓLOGO


[1] Escuta, filho, os preceitos do Mestre, e inclina o ouvido do teu coração; recebe de boa vontade e executa eficazmente o conselho de um bom pai, [2] para que voltes, pelo labor da obediência, àquele de quem te afastaste pela desídia da desobediência. [3] A ti, pois, se dirige agora a minha palavra, quem quer que sejas que, renunciando às próprias vontades, empunhas as gloriosas e poderosíssimas armas da obediência para militar sob o Cristo Senhor, verdadeiro Rei.

[4] Antes de tudo, quando encetares algo de bom, pede-lhe com oração muito insistente que seja por ele plenamente realizado, [5] a fim de que nunca venha a entristecer-se, por causa das nossas más ações, aquele que já se dignou contar-nos no número de seus filhos; [6] assim, pois, devemos obedecer-lhe em todo tempo, usando de seus dons a nós concedidos para que não só não venha jamais, como pai irado, a deserdar seus filhos, [7] nem tenha também, qual Senhor temível, irritado com nossas más ações, de entregar-nos à pena eterna como péssimos servos que o não quiseram seguir para a glória.

[8] Levantemo-nos então finalmente, pois a Escritura nos desperta dizendo: "Já é hora de nos levantarmos do sono". [9] E, com os olhos abertos para a luz deífica, ouçamos, ouvidos atentos, o que nos adverte a voz divina que clama todos os dias: [10] "Hoje, se ouvirdes a sua voz, não permitais que se endureçam vossos corações", [11] e de novo: "Quem tem ouvidos para ouvir, ouça o que o Espírito diz às igrejas". [12] E que diz? – "Vinde, meus filhos, ouvi-me, eu vos ensinarei o temor do Senhor. [13] Correi enquanto tiverdes a luz da vida, para que as trevas da morte não vos envolvam".

[14] E procurando o Senhor o seu operário na multidão do povo, ao qual clama estas coisas, diz ainda: [15] "Qual é o homem que quer a vida e deseja ver dias felizes?" [16] Se, ouvindo, responderes: "Eu", dir-te-á Deus: [17] "Se queres possuir a verdadeira e perpétua vida, guarda a tua língua de dizer o mal e que teus lábios não profiram a falsidade, afasta-te do mal e faze o bem, procura a paz e segue-a". [18] E quando tiveres feito isso, estarão meus olhos sobre ti e meus ouvidos junto às tuas preces, e antes que me invoques dir-te-ei: "Eis-me aqui". [19] Que há de mais doce para nós, caríssimos irmãos, do que esta voz do Senhor a convidar-nos? [20] Eis que pela sua piedade nos mostra o Senhor o caminho da vida.

[21] Cingidos, pois, os rins com a fé e a observância das boas ações, guiados pelo Evangelho, trilhemos os seus caminhos para que mereçamos ver aquele que nos chamou para o seu reino. [22] Se queremos habitar na tenda real do acampamento desse reino, é preciso correr pelo caminho das boas obras, de outra forma nunca se há de chegar lá. [23] Mas, com o profeta, interroguemos o Senhor, dizendo-lhe: "Senhor, quem habitará na vossa tenda e descansará na vossa montanha santa?". [24] Depois dessa pergunta, irmãos, ouçamos o Senhor que responde e nos mostra o caminho dessa mesma tenda, [25] dizendo: "É aquele que caminha sem mancha e realiza a justiça; [26] aquele que fala a verdade no seu coração, que não traz o dolo em sua língua, [27] que não faz o mal ao próximo e não dá acolhida à injúria contra o seu próximo". [28] É aquele que quando o maligno diabo tenta persuadi-lo de alguma coisa, repelindo-o das vistas do seu coração, a ele e suas sugestões, redu-lo a nada, agarra os seus pensamentos ainda ao nascer e quebra-os de encontro ao Cristo. [29] São aqueles que, temendo o Senhor, não se tornam orgulhosos por causa de sua boa observância, mas, julgando que mesmo as coisas boas que têm em si não as puderam por si, mas foram feitas pelo Senhor, [30] glorificam Aquele que neles opera, dizendo com o profeta: "Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao vosso nome dai Glória". [31] Como, aliás, o Apóstolo Paulo não atribuía a si próprio coisa alguma de sua pregação, quando dizia: "Pela graça de Deus sou o que sou" [32] e ainda: "Quem se glorifica, que se glorifique no Senhor".

[33] Eis porque no Evangelho diz o Senhor: "Àquele que ouve estas minhas palavras e as põe em prática, compará-lo-ei ao homem sábio que edificou sua casa sobre a pedra, [34] cresceram os rios, sopraram os ventos e investiram contra a casa; e ela não ruiu porque estava fundada sobre pedra". [35] Em conclusão espera o Senhor todos os dias que nos empenhemos em responder com atos às suas santas exortações. [36] Por essa razão, os dias desta vida nos são prolongados como tréguas para a emenda dos nossos vícios, [37] conforme diz o Apóstolo: "Então ignoras que a paciência de Deus te conduz à penitência?". [38] Pois diz o bom Senhor: "Não quero a morte do pecador, mas sim que se converta e viva".

[39] Como, pois, irmãos, interrogássemos o Senhor a respeito de quem mora em sua tenda, ouvimos em resposta, qual a condição para lá habitar: a nós compete cumprir com a obrigação do morador!

[40] Portanto, é preciso preparar nossos corações e nossos corpos para militar na santa obediência dos preceitos; [41] e em tudo aquilo que nossa natureza tiver menores possibilidades, roguemos ao Senhor que ordene a sua graça que nos preste auxílio. [42] E, se, fugindo das penas do inferno, queremos chegar à vida eterna, [43] enquanto é tempo, e ainda estamos neste corpo e é possível realizar todas essas coisas no decorrer desta vida de luz, [44] cumpre correr e agir, agora, de forma que nos aproveite para sempre.

[45] Devemos, pois, constituir uma escola de serviço do Senhor. [46] Nesta instituição esperamos nada estabelecer de áspero ou de pesado. [47] Mas se aparecer alguma coisa um pouco mais rigorosa, ditada por motivo de eqüidade, para emenda dos vícios ou conservação da caridade [48] não fujas logo, tomado de pavor, do caminho da salvação, que nunca se abre senão por estreito início. [49] Mas, com o progresso da vida monástica e da fé, dilata-se o coração e com inenarrável doçura de amor é percorrido o caminho dos mandamentos de Deus. [50] De modo que não nos separando jamais do seu magistério e perseverando no mosteiro, sob a sua doutrina, até a morte, participemos, pela paciência, dos sofrimentos do Cristo a fim de também merecermos ser co-herdeiros de seu reino. Amém.

HISTÓRICO: JANEIRO E FEVEREIRO

Em 9 de janeiro houve a primeira reunião do grupo de oblatos do Mosteiro da Santíssima Trindade.

Nesta reunião decidiu-se seria criado um blog para socialização das atividades e reflexões do grupo de olbatos com as pessoas interessadas em viver a espiritualidade beneditina, mas não tem possibilidade de acompanhar o grupo em seus encontros. A responsabilidade pela organização do mesmo ficou a cargo de Paulo Roberto Corrêa Glasorester.

Posteriormente estudamos o Prólogo da Regra de São Bento.

Em 13 de março ocorreu a reunião mensal do grupo em que continuamos a estudar o Prólogo da Regra.

Salmos Imprecatórios



Certa vez, eu estava no Mosteiro, e apos a oração, comentei que os Salmos estavam meio "pesados" para aquele dia. A Madre olhou para mim e disse:
"- Ah, sim. Você é daquelas pessoas perfeitas"

Como assim?
Ela explicou então que existem alguns salmos da Bíblia que são Salmos Imprecatórios, ou seja, o salmista clama vingança ao Senhor (e olha que os Salmos que havíamos lidos nem eram esses). São pérolas como:
“Sua malícia recairá em sua própria cabeça, e sua violência se voltará contra a sua fronte.” - Salmo 7
“porque aqueles que o Senhor abençoa possuirão a terra, mas os que ele amaldiçoa serão destruídos”. - Salmo 36
E os mais famosos:
“Fiquem órfãos os seus filhos, e viúva a sua esposa. – Salmo 109
“Feliz aquele que se apoderar de teus filhinhos, para os esmagar contra o rochedo! - Salmo 137
(Bíblia Ave-Maria)
Todos esses salmos falam de maldades e vinganças. Como cristãos, batizados na Morte e Ressurreição de Cristo, devíamos amar a todas as pessoas e não amaldiçoa-las.

Ela comentou que em alguns mosteiros realmente, suprimiram esses salmos. Mas ela e a maioria dos mosteiros continuam utilizando, porque, apesar de batizados, continuamos humanos e pecadores. Esses salmos nos mantém em contato com o pecado que há em nós. Quem nunca desejou a morte de alguém, ou simplesmente que aquela pessoa sumisse da sua frente naquele momento?

Quando rezamos, também podemos (e devemos) entrar em contato com o mal que há em nós para que Deus o purifique. Se continuarmos nos achando pessoas perfeitas, nunca poderemos mudar, nos converter.

Os monges (e também os oblatos) seguem a conversão de costumes. O que significa que depois que entrou para o Mosteiro, ninguém se torna automaticamente santo. São Bento diz que devemos ser sempre humildes.

Mesmo que as grandes opções tenham sido feitas. Nem sempre podemos ou conseguimos ser fiel as nossas convicções nas pequenas coisas do dia-a-dia. Ou não achamos a melhor solução, então devemos reconhecer que erramos (ou que não tínhamos como fazer melhor).

Que o Cristo Ressucitado nos ilumine em nossa caminhada de vida.

Irmã Pietra, Oblata do Mosteiro da Santíssima Trindade

XV CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE SÃO BENTO: HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II



Desde o inicio das atividades deste blog estamos tendo contato com as obras realizadas por São Bento e pelos seus discípulos ao longo dos séculos através das palavras dos Papas.

Desde 21 de março passado estamos “acompanhando” o Papa João Paulo II em sua peregrinação a Núrsia, local de nascimento de nosso Pai Bento, em 23 de março de 1980.

Num primeiro momento lemos o discurso às vítimas de um trágico terremoto que havia acontecido naquele lugar.

Em 11 de abril tivemos contato com o discurso feio às autoridades civis.

Hoje leremos a homilia proferida pelo Santo Padre na Santa Missa rezada naquele dia.

XV CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE SÃO BENTO E SANTA ESCOLÁSTICA

HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II

23 de Março de 1980

I. Glória a Ti, ó Cristo, Verbo de Deus.

Glória a Ti cada dia neste período bem-aventurado que é a Quaresma. Glória a Ti no dia de hoje, dia do Senhor e quinto Domingo deste período.

Glória a Ti, Verbo de Deus, que te fizeste carne e te manifestaste com a tua vida e realizaste na terra a tua missão com a Morte e Ressurreição.

Glória a Ti, Verbo de Deus que penetras no íntimo dos corações humanos e lhes mostras o caminho da salvação.

Glória a Ti em todos os lugares da terra.

Glória a Ti nesta península entre os cimos dos Alpes e o Mediterrâneo. Glória a Ti em todos os lugares desta bem-aventurada região; glória a Ti em todas as cidades e aldeias, onde há quase 2.000 anos Te escutam os seus habitantes e caminham à Tua luz.

Glória a Ti, Verbo de Deus, Verbo da Quaresma, que é o tempo da nossa salvação, da misericórdia e da penitência.

Glória a Ti, por causa de um filho ilustre desta Terra.

Glória a Ti, Verbo de Deus, que neste lugar, nesta localidade chamada Núrsia, por um filho desta Terra — conhecido de toda a Igreja e do mundo sob o nome de Bento — foste escutado a primeira vez e foste acolhido como luz da própria vida e também da dos seus irmãos e irmãs.

Verbo de Deus que não passarás nunca; na verdade, passaram já 1.500 anos a contar do nascimento de Bento, Teu confessor e monge, Fundador da Ordem, Patriarca do Ocidente, Patrono da Europa.

Glória a Ti, Verbo de Deus.

2. Permiti, caros Irmãos e Irmãs, que eu insira estas expressões de veneração e agradecimento nas palavras da liturgia quaresmal de hoje. A veneração e o agradecimento são o motivo da nossa presença hoje aqui, da minha peregrinação juntamente convosco ao lugar do nascimento de São Bento, completando-se 1.500 anos a partir da data deste nascimento.

Sabemos que o homem nasce para o mundo graças a seus pais. Confessamos que, uma vez vindo ao mundo de progenitores terrestres, que são o pai e a mãe, ele renasce para a graça do Baptismo mergulhando na morte de Cristo crucificado, para receber a participação daquela Vida, que o próprio Cristo revelou com a sua ressurreição. Mediante a graça recebida no Baptismo, o homem participa no eterno nascimento do Filho originado no Pai, porque se torna filho adoptivo de Deus: filho no Filho.

Não se pode deixar de recordar esta verdade humana e cristã acerca do nascimento do homem, hoje, em Núrsia, no lugar do nascimento de São Bento. Ao mesmo tempo pode e deve dizer-se que, juntamente com ele, nascia em certo sentido nova época, nova Itália e nova Europa. O homem vem sempre ao mundo em determinadas condições históricas; também o Filho de Deus se tornou Filho do homem em certo período do tempo e nele deu início aos tempos novos que vieram depois dele. Igualmente em certa época histórica nasceu, em Núrsia, Bento que, graças à fé em Cristo, obteve a justiça que vem de Deus (Flp 3, 9 ), e soube enxertar esta justiça nas almas dos seus contemporâneos e dos vindouros.

3. O ano em que, segundo a tradição, veio à luz Bento, o de 480, segue muito de perto uma data fatídica, ou melhor fatal, para Roma: aludo ao ano de 478 depois de Cristo, em que, ao serem enviadas para Constantinopla as insígnias imperiais, o Império Romano do Ocidente, após longo período de decadência, teve o seu fim oficial. Desabou nesse ano certa estrutura política, isto é, um sistema que tinha, pouco a pouco, condicionado, por quase um milénio, o caminho e o desenvolvimento da civilização humana na área de toda a bacia do Mediterrâneo.

Reflictamos: o próprio Cristo veio ao mundo segundo as coordenadas — tempo, lugar, ambiente, condições políticas, etc. — criadas por este mesmo sistema. E também a cristandade — na história gloriosa e dolorosa da «Ecclesia primaeva», tanto na época das perseguições como na da liberdade que veio em seguida — se desenvoveu no quadro do «ordo Romanus», mais, desenvolveu-se em certo sentido, «apesar» de tal ordem, pois a cristandade tinha uma dinâmica sua própria, que a tornava independente de tal ordem e lhe consentia viver uma vida «paralela» ao seu desenvolvimento histórico.

Também o chamado edito de Constantino de 313 não fez que a Igreja ficasse a depender do Império: se lhe reconheceu a justa liberdade «ad extra», depois das sanguinolentas repressões da idade anterior, não foi ele que lhe conferiu aquela igualmente necessária liberdade «ad intra», que, em conformidade com a vontade do seu Fundador, para ela deriva indefectivelmente do impulso de vida a ela comunicadó pelo Espírito. Também depois deste importante acontecimento, que marcou a paz religiosa, o Império romano continuou no seu processo de esfacela-mento: enquanto no Oriente o sistema imperial se pôde reforçar, embora com notáveis transformações, no Ocidente enfraqueceu-se por uma série de causas internas e externas — entre as quais o choque das migrações dos povos e a certo ponto deixou de ter força para sobreviver.

4. Na verdade, quando aqui em Núrsia veio ao mundo São Bento, não só «o mundo antigo se encaminhava para o fim» (Krasinski, Irydion), mas na realidade esse mundo estava já transformado: tinham sucedido os «Christiana Tempora». Roma, que em tempos fora a testemunha principal do poder de tal mundo e a cidade do seu maior esplendor, tinha-se tornado a Roma cristã. Em certo sentido, tinha sido verdadeiramente a cidade com que se tinha identificado o Império. Mas a Roma dos Césares passara. Ficara a Roma dos Apóstolos. A Roma de Pedro e de Paulo, a Roma dos Mártires, cuja memória estava ainda relativamente recente e viva. E, mediante esta memória, era viva a consciência da Igreja e era vivo o sentido da presença de Cristo, a quem tantos homens e tantas mulheres não tinham hesitado em dar testemunho mediante o sacrifício da própria vida.

Eis, pois, que nasce em Núrsia Bento e cresce naquele clima especial, em que o fim da potência terrena, a maior das potências que se tinham manifestado no mundo antigo, fala ao espírito com a linguagem das realidades últimas, enquanto ao mesmo tempo falam Cristo e o Evangelho doutra aspiração, doutra dimensão da vida, doutra justiça, doutro Reino.

Bento de Núrsia cresce nesse clima. Sabe que a verdade plena sobre o significado da vida humana, a expressou São Paulo, quando escreveu na carta aos Filipenses: Esquecendo-me do que fica para trás e avançando para o que está adiante, prossigo em direcção à meta, para obter o prémio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus (Flp 3, 13-14).

Estas palavras tinha-as escrito o Apóstolo das gentes, o fariseu convertido, que dava deste modo testemunho da sua conversão e fé. Estas palavras reveladas contêm também a verdade que volta à Igreja e à humanidade nos diversos períodos da história. Naquele período, quando Cristo chamou Bento de Núrsia, estas palavras anunciavam o início de uma época que seria precisamente a época da grande aspiração «para o alto», no seguimento de Cristo crucificado e ressurgido. Exactamente como escreve São Paulo: assim poderei conhecê-l'O, a Ele, à força da Sua Ressurreição e à comunhão dos Seus sofrimentos, configurando-me à Sua morte, para ver se posso chegar à ressurreição dos mortos (Flp 3, 10-11).

Assim portanto, além do horizonte da morte que sofreu todo o mundo construído sobre a potência temporal de Roma e do Império, levanta-se esta nova aspiração: a aspiração «para o alto», despertada pelo desafio da nova vida, o desafio apresentado ao homem, por Cristo, juntamente com a esperança da ressurreição futura. O mundo terrestre — o mundo dos poderes e das derrotas do mundo — tornou-se o mundo visitado pelo Filho de Deus, o mundo sustentado pela cruz na prespectiva do futuro definitivo do homem que é a eternidade: o Reino de Deus.

5. Bento foi mais para a sua geração, e ainda mais para as gerações sucessivas, o apóstolo daquele Reino e daquela aspiração. Todavia a mensagem que ele proclamou mediante toda a sua Regra de vida, parecia e parece ainda hoje quotidiana, comum e quase menos «heróica» que a deixada pelos Apóstolos e Mártires sobre as ruínas da Roma antiga.

Na realidade, é a mensagem mesma da vida eterna, revelada aos homens em Cristo Jesus, a mesma, se bem que pronunciada com a linguagem dos tempos agora diversos. A Igreja relê sempre o mesmo Evangelho Verbo de Deus que não passa — no contexto da realidade humana que muda. E Bento soube certamente interpretar com persicácia os sinais dos tempos de então, quando escreveu a sua Regra, na qual a união da oração e do trabalho se tornava, para aqueles que a aceitassem, o princípio da aspiração à eternidade. «Ora et labora» era, para o Grande Fundador do Monaquismo ocidental, a mesma verdade que o Apóstolo proclama na leitura de hoje, quando afirma ter deixado perder tudo por Cristo:

Em tudo isto só vejo dano, comparado com o supremo conhecimento de Jesus Cristo, meu, Senhor, Por Ele tudo desprezei e tenho em conta de esterco, a fim de ganhar Cristo e n'Ele ser achado (Flp 3, 8-9).

Bento, lendo os sinais dos tempos, viu que era necessário realizar o programa radical da santidade evangélica, expresso com as palavras de São Paulo, numa forma ordinária, nas dimensões da vida quotidiana de todos os homens. Era necessário que o heróico se tornasse normal, quotidiano, e que o normal, o quotidiano, se tornasse heróico.

Deste modo ele, pai dos monges, legislador da vida monástica no Ocidente, tornou-se também indirectamente o pioneiro de nova civilização. Onde quer que o trabalho humano condicionava o desenvolvimento da cultura, da economia e da vida social, aí chegava o programa beneditino da evangelização, que unia o trabalho à oração e a oração ao trabalho.

É necessário admirar a simplicidade de tal programa, e ao mesmo tempo a sua universalidade. Pode-se dizer que esse programa contribuiu para a cristianização dos novos povos do Continente europeu e ao mesmo tempo figurou também na base da história nacional dos mesmos, história que dura há mais de um milénio.

Deste modo, São Bento tornou-se, no decorrer dos séculos, o patrono da Europa: muitos anos antes de ser proclamado tal pelo Papa Paulo VI.

6. É Patrono da Europa nesta nossa época. É-o não só em consideração dos seus méritos particulares para com este continente, a sua história e a sua civilização, mas também se consideramos a nova actualidade da sua figura perante a Europa contemporânea.

Pode-se apartar o trabalho da oração e fazer daquele dimensão única da existência humana. A época contemporânea traz consigo essa tendência. Diferença-se dos tempos de Bento de Núrsia, porque então o Ocidente olhava para trás, inspirando-se na grande tradição de Roma e do mundo antigo. Hoje a Europa sofre as consequências da terrível segunda guerra mundial e as consequentes mudanças na carta do globo, que limitaram a dominação do Ocidente sobre outros Continentes. A Europa, em certo sentido, voltou para dentro das suas próprias fronteiras.

Todavia, o que está para trás das nossas costas não é o objecto principal da atenção e da inquietação dos homens e dos povos. Tal objecto principal não deixa de ser o que está para diante de nós.

Para que termo caminha a humanidade inteira, ligada com os múltiplos vínculos dos problemas e das recíprocas dependências, que se estendem a todos os povos e Continentes? para que termo caminha o nosso Continente, e sobre ele todos os povos e tradições que decidem da sua vida e da história de tantos países e tantas Nações?

Para que termo caminha o homem?

As sociedades e os homens no decorrer destes 15 séculos, que nos separam do nascimento de São Bento de Núrsia, tornaram-se os herdeiros ele uma grande civilização; os herdeiros das suas vitórias, mas também das suas derrotas; das suas luzes, mas também das suas trevas.

Tem-se a impressão de a economia dominar a moral, de a temporalidade dominar a espiritualidade.

Por um lado, a orientação quase exclusiva para o consumismo dos bens materiais tira à vida humana o sentido que lhe é mais profundo. Por outro lado, o trabalho está-se tornando em muitos casos constrangimento alienante para o homem, submetido aos colectivismos, e aparta-se, quase por força, da oração, tirando à vida humana a sua dimensão ultratemporal.

Entre as consequências negativas de semelhante insensibilização, perante os valores transcendentes, uma há que hoje preocupa de modo especial: consiste no clima cada vez mais generalizado de tensão social, que tão frequentemente degenera em episódios absurdos de feroz violência terrorista. A opinião pública está profundamente agitada e perturbada. Só a recuperada consciência da dimensão transcendente do destino humano poderá conciliar o esforço pela justiça com o respeito da sacralidade de qualquer vida humana inocente. Para isso, a Igreja italiana recolhe-se hoje em oração especial e bem sentida.

Não se pode viver para o futuro sem reconhecer que o sentido da vida é maior que a temporalidade, que ele está acima desta. Se as sociedades e os homens do nosso Continente perderem o interesse por este sentido, devem reencontrá-lo. Podem, com este intento, andar para trás 15 séculos? Para os tempos em que nasceu São Bento de Núrsia?

Não, voltar para trás não podem. O sentido da vida devem encontrá-lo no contexto dos nossos tempos. Não é possível de outra maneira. Não devem nem podem voltar para trás, aos tempos de Bento, mas devem reencontrar o sentido da existência humana no exemplo de Bento. Só então viverão para o futuro. Trabalharão para o futuro. E morrerão na perspectiva da eternidade.

Se o meu Predecessor Paulo VI chamou de Núrsia São Bento para ser o Patrono da Europa, é porque ele poderá contribuir para o objectivo proposto à Igreja e às nações da Europa. Faço sinceros votos para que esta peregrinação, ao lugar do seu nascimento, possa servir tal causa.